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Você sabia que uma convulsão pode ter origem no coração?

Quem já presenciou alguém em meio a uma convulsão sabe que a cena normalmente é impactante. Na maioria dos casos, envolve salivação, espasmos ou tremores em partes ou por todo o corpo, algumas vezes acompanhados de alterações ou perda total da consciência.

Porém, nem todo mundo tem conhecimento das causas do problema, que muitas vezes é associado apenas à epilepsia. Tensão emocional, excesso de trabalho, alimentação insuficiente, sono ruim, estresse crônico e problemas cardíacos podem ser desencadeadores de um quadro convulsivo.

Médico mostrando que coração pode ser causa de convulsão

Foto: Umaporn Kensila/ Shutterstock

Mas o que é convulsão?

Convulsão é um distúrbio que se caracteriza pela contratura muscular involuntária de todo o corpo ou de parte dele, provocada por um aumento excessivo da atividade elétrica de determinadas áreas cerebrais. É como se ocorresse uma “tempestade cerebral”.

De forma resumida, as células nervosas no cérebro, os neurônios, criam, enviam e recebem impulsos elétricos, o que permite que as células se comuniquem. Qualquer estímulo que interrompa essas vias de comunicação pode levar a uma convulsão.

Entretanto, os sintomas – assim como a gravidade – dependem do tipo de convulsão, da região do cérebro afetada e da função que ela desempenha no organismo (algumas crises envolvem apenas uma parte, outras todo o cérebro). Há ainda casos em os sinais são tão breves que, às vezes, nem sequer são notados.

De modo geral, pode causar mudanças e anormalidades temporárias no comportamento, na salivação, na coloração da pele, nas sensações (paladar, olfato, visão, audição e fala), nos movimentos (como contrações rítmicas, repetitivas e incontroláveis em diferentes locais do corpo), alucinações, vertigens e a perda súbita e total da consciência (desmaio).

E o que acontece com o coração durante uma convulsão?

Assim como outros órgãos do corpo, o coração pode responder de várias maneiras durante e imediatamente após uma crise convulsiva. Como vimos, diferentes tipos de convulsão podem afetar partes distintas do cérebro, inclusive regiões que controlam o nosso ritmo cardíaco.

As variações da frequência em uma convulsão envolvem casos de arritmias, ou seja, batimentos cardíacos irregulares, sejam eles muito rápidos (as chamadas taquicardias) ou muito lentos (conhecido como bradicardia). Estimativas apontam que cerca de 80% das ocorrências em que o coração é afetado, há a aceleração dos batimentos. Em alguns casos, é possível experimentar mudanças que incluem até mesmo, em situações mais raras, a ausência do batimento cardíaco por completo.

Arritmia X convulsão

Diversos estudos vêm ao longo dos anos analisando a relação entre as convulsões e as arritmias. O que se tem constatado é que mudanças no ritmo natural dos pulsos do coração, especialmente quando provocam uma desorganização relevante nos batimentos, geram alterações no fluxo sanguíneo, que segue do coração para o cérebro e desencadeia um quadro convulsivo.

As arritmias cardíacas podem causar assim o que chamamos de uma síncope convulsiva, episódio muito parecido com uma convulsão. Em resumo: uma convulsão ocorre, como explicado acima, devido à atividade excessiva do sistema nervoso; já a síncope convulsiva é motivada pela falta de oxigênio no cérebro, muitas vezes em resposta a um ritmo cardíaco anormal subjacente.

Entretanto, é arriscado mencionar o quanto as arritmias aumentam o risco desses episódios convulsivos. Para identificar essa conexão seria preciso usar um monitor cardíaco antes, durante e depois da crise, o que é difícil, uma vez que não conseguimos, em geral, prever exatamente quando elas podem ocorrer.

A convulsão pode desencadear uma arritmia?

A resposta é sim. Mudanças na função cerebral são capazes de afetar o sistema nervoso autônomo, podendo levar a arritmias cardíacas – alguns relatos indicam que uma pessoa pode sofrer fibrilação atrial logo após uma convulsão.

Porém, grande parte das pesquisas não são conclusivas sobre as razões. Há vários potenciais motivos, entre eles: sub-ativação do sistema nervoso autônomo no cérebro; aumento da atividade do nervo vago devido a mudanças no tronco encefálico; insuficiência respiratória após uma convulsão, afetando a capacidade de bombeamento do coração, entre outras.

Alterações e doenças cardíacas

Mais condições que envolvem o coração podem justificar uma síncope convulsiva ou convulsão. Dentre os problemas, é possível citar, por exemplo, outras questões que prejudicam o bombeamento e a circulação do sangue, provocando níveis reduzidos de oxigenação no cérebro.

É o caso de uma estenose aórtica (a valva cardíaca fica enrijecida e com acúmulo de cálcio, causando a obstrução do sangue que é ejetado pelo coração), da insuficiência cardíaca (o músculo cardíaco trabalha de forma insatisfatória e não tem força para bombear o sangue com a pressão necessária para atender às necessidades do organismo), da cardiomegalia (o coração grande e fraco fica comprometido, apresentando deficiência no bombeamento) e de uma parada cardíaca.

Epilepsia X convulsão

Devemos ter claro ainda que convulsão não é sinônimo de epilepsia. Epilepsia é uma doença específica, que predispõe um indivíduo a convulsões, mesmo na ausência de outros problemas capazes de desencadear a condição. Portanto, nem toda pessoa que tem uma convulsão tem epilepsia. Também é importante saber que, em alguns casos, não é possível identificar a causa da síncope convulsiva ou convulsão.

Além das razões já mencionadas, as crises ocorrem também por: febre alta; infecção (meningite ou encefalite, por exemplo); derrame ou lesão cerebral ativa (como um traumatismo craniano); doença geral severa (incluindo uma infecção grave pela Covid-19); baixo teor de sódio no sangue; distúrbios metabólicos (como hipoglicemia, diabetes e insuficiência renal); álcool, drogas (tais como anfetaminas ou cocaína) e alguns medicamentos.

Tratamento

Uma convulsão não deve ser vista como algo corriqueiro. Ao contrário, precisa servir como um sinal de alerta, uma vez que pode até colocar a vida em risco. A maioria das convulsões dura de 30 segundos a dois minutos. Quando se estende por mais de cinco minutos se torna uma emergência médica.

Por isso, é fundamental fazer uma investigação para diagnóstico da causa e o possível tratamento. A maioria dos distúrbios convulsivos pode ser controlada com medicamentos para evitar a recorrência e assegurar o controle das crises.

Em indivíduos com convulsões provocadas por álcool, drogas, pelo efeito colateral de medicamentos e por distúrbios metabólicos, o risco de novas ocorrências diminui quando são retiradas substâncias causadoras ou corrigido o problema orgânico. No caso do coração, é fundamental ainda a realização de exames complementares para pesquisar variações da frequência cardíaca e pressão arterial, problemas das valvas e sinais de uma possível insuficiência cardíaca.

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